Posted by : "TC"endo ideias sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Por Tarcísio Henrique da Cunha Altomare

Quando tentamos relacionar os pensamentos de Herbert Marcuse com o modelo de sociedade consumista dos nossos dias, vemos que muitas de suas considerações são válidas, mesmo tendo se passado quase quarenta anos após sua morte.

Para Marcuse, as sociedades modernas são vítimas de uma dominação da técnica sobre o homem, isto porque as falsas necessidades geradas pela industria forçam o individuo a entrar em uma busca interminável por uma satisfação passageira, já que novas necessidades serão criadas em seguida. Essa busca interminável sufoca o pensamento individual que poderia levar a uma quebra do ciclo, ou a um rompimento com o modelo atual que geraria uma revolução na sociedade.

Marcuse também acreditava que qualquer mudança considerável nessa sociedade de consumo só poderia vir da juventude, que já tem por natureza a necessidade de quebra com os costumes e contestação da ordem vigente. Para ele, o povo não serviria como massa de manobra em uma possível revolução por já estar demasiado preso às necessidades e funções impostas pelo sistema.

Suas considerações sobre o poder de mudança dos jovens foram colocadas à prova durante os movimentos estudantis na França de 1968. As revoltas partiram da juventude e contagiaram parte do proletariado, parando o país através de greves e forçando mudanças sociais importantes. No entanto, o principal legado daqueles movimentos foi mostrar a capacidade da juventude de lutar contra as ideias impostas pela ordem vigente e reafirmar a liberdade individual.

Nos protestos que ocorreram e ainda vem ocorrendo no Brasil, iniciados em junho desse ano, a juventude também agiu como o estopim de uma revolta contra a ordem atual. As manifestações não tinham um objetivo traçado, começaram com o pedido por queda nas tarifas de transporte, mas, só atingiram seu ápice, quando a luta se virou contra tudo e todos.

Marcuse dizia que o homem deveria se libertar para dominar a técnica como ferramenta de mudança social, o que começou a acontecer com o uso da internet para divulgar as manifestações. Porém, com o tempo, o outro lado da moeda apareceu e se tornou a maior fraqueza do movimento, quando essa mesma ferramenta se tornou a razão pela qual as pessoas saíam as ruas. O pensamento de mudança foi esquecido, porque participar dos protestos se tornou a nova necessidade de uma sociedade na qual divulgamos tudo o que queremos ser e esquecemos de pensar se o que queremos é mesmo necessário.

O rompimento total com o sistema, que Marcuse prega, mas ao qual se refere como quase utópico, está mesmo longe de acontecer. Ao passo que desenvolvemos a técnica e somos envolvidos por ela, tudo caminha na mais perfeita ordem. O  caminho alternativo se separa da estrada, dá algumas voltas, causa pequenos transtornos, mas acaba se encontrando com ela novamente e seguindo para o futuro através de um horizonte tranquilo.


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