Posted by : Lilian Delfino quinta-feira, 23 de janeiro de 2014



É só no espaço da comicidade que a televisão se atreve a deixar ver o povo, esse “feio povo” que a burguesia racial quis a todo custo ocultar. Só aí a televisão se trai, ao mostrar sem pudor as faces do povo. Mais uma vez, o realismo grotesco do cômico se faz espaço de expressão dos de baixo, que nele se dão uma face e apresentam suas armas, sua capacidade de paródia e caricatura. E é também nesses programas que as classes altas, as oligarquias, são ridicularizadas e, mais ainda que elas, os que tentam imitá-las. O alvo das piadas mais refinadas será a nova classe média, que está com a grana......mas sobe pelas paredes! (Barbero, 2009)

          Você já leu ou ouviu falar do livro futurista '1984'? Escrito pelo jornalista, ensaista e romancista britânico, George Orweell, em 1949, portanto, de uma perspectiva um tanto quanto futurista, o livro fala de uma cidade fictícia, Oceânia (um "pseudônimo" para Londres), na qual tudo gira em torno do Big Brother, líder máximo da cidade que tomou o poder após uma guerra global que exterminou as nações criando apenas três grandes Estados transcontinentais totalitários. Como forma de controle da ex-Inglaterra, ex-Américas, ex-África e ex- Nova Zelândia, as quais formavam Oceânia, cartazes eram espalhados por todo o território com o slogan: "O Big Brother está de olho em você". Como um segundo método de observação, eram usadas na cidade as teletelas que, instaladas por todos os cantos e no interior das casas, eram uma espécie de televisor capaz de monitorar, gravar e espionar a população e, assim, inibir qualquer comportamento fora do padrão.
          Orwell não estava totalmente enganado... Sim, toda semelhança com o reality show exibido pela Rede Globo não é mera coincidência, apesar de os diretores jurarem com os pés juntos que não tem nenhuma influência do livro. O Big Brother Brasil, mais que um programa de entretenimento, também é uma forma de controle social. Assim como as teletelas de Orwell, todas as câmeras instaladas na casa tem como objetivo controlar a vida dos participantes do programa enquanto estiverem confinados, mas esse controle se estende também aos consumidores do reality. Pessoalmente, o programa não me atrai como espectadora, mas acho uma discussão válida e interessante, pois é sempre a mesma história: "vai começar a edição 9839874895487546 do BBB", diz o telespectador, "não vou assistir. É tudo armado, já tem alguém para ganhar esse dinheiro". Mas é óbvio que se o reality tem tantas edições é porque tem quem o assista. Enfim, é dessa forma que o controle social se estabelece. A partir dessa audiência o programa ganha força e cada vez mais adeptos do sonho de ficar rico, ganhar dinheiro fácil, ter o corpo perfeito e tantos outro clichês, que já passaram ou vão passar pelo inconsciente de muitas pessoas. 
         E assim se estabelece um ciclo vicioso: trabalhar para ter dinheiro como os participantes do reality. Ir à academia para conseguir um corpo padrão como o dos participantes do reality, consumir os produtos exibidos no reality, ter o carro anunciado no reality, ir as festas como as do reality, agir como, ser como,ver, pensar, falar. A repetição é proposital mesmo, é a forma de mostrar como isso se infiltra na cabeça das pessoas; gente moderna, considerada inteligente, mas que não para para pensar a respeito. Simplesmente age no chamado piloto automático, incentivado pela falsa vida perfeita exibida nas teletelas do século XXI.
        Paralelo a isso, temos as teorias disciplinares de Michel Foucault, em seu livro Vigiar e Punir, publicado em 1975, com sua cidade pestilenta e o panóptico, o que prova que o controle social está presente desde sempre na sociedade, sob diferentes argumentos para esse controle. Segundo o autor, "a disciplina e o controle cria corpos dóceis, ideais para as exigências modernas em questões de economia, política, guerra [...]", e é assim que se formam as pessoas perfeitas para o sistema, pessoas que, incapazes de questionar, perguntam: "de que altura?" a cada vez que alguém ordenar "pule!"

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